Lendo

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O jornal e suas metamorfoses

Um senhor pega um bonde depois de comprar o jornal e põe-no debaixo do braço. Meia hora depois, desce com o mesmo jornal debaixo do mesmo braço. Mas já não é o mesmo jornal, agora é um monte de folhas impressas que o senhor abandona num banco da praça.

Mal fica sozinho na praça, o monte de folhas impressas se transforma outra vez em jornal, até que uma velha o encontra, o lê e o deixa transformado num monte de folhas impressas. Depois, leva-o para casa e no caminho aproveita-o para embrulhar um molho de celga, que é para o que servem os jornais depois dessas excitantes metamorfoses.


Em Histórias de Cronópios e de Famas - Julio Cortazár

terça-feira, 30 de julho de 2013

A vergonha. A vergonha - dirá depois - é uma das mais poderosas máquinas de enquadramento social que existem. O faro para conhecer a medida da normalidade, em cada gesto cotidiano. Não saia da linha. Não enlouqueça. E, principalmente, não passe ridículo. Ele pensava sinceramente que já havia transposto esse Rubicão de uma vez por todas - o teatro de rua que participara anos atrás, na comunidade, com grandiloquência pretensiosa fantasiando-se de teatro popular já lhe dera micos suficientes para um doutorado em cara de pau. Mas havia proteção de grupo e invólucro de inconsequência - ele ainda podia ser qualquer coisas a qualquer momento; ele ainda podia mudar de rumo; ele tinha um destino algum. Tinha só a arrogância da liberdade. Fodam-se.

A família do velho Kennedy escondeu do mundo, a vida inteira, um filho retardado. Havia muita coisa em jogo, é verdade - mas o grande motor era a vergonha. A vergonha regula do catador de lixo ao presidente da República. É uma chave poderosa da vida cotidiana: esses políticos deviam é ter vergonha na cara!, nós dizemos todos os dias, o que é um mantra que nos redime e nos tranquiliza. Como se fosse a mesma coisa, agora ele sentia vergonha, embora a palavra, por algum mistério, não lhe aflorasse, o som da palavra em sua simplicidade, como alguma coisa tão absurdamente simples, vergonha, não pudesse fazer parte da sua vida (só os medíocres sentem vergonha, ele recitava) - o que chegava à pele, o que queimava, era o sentimento insuportável de alguma coisa errada. E alguma coisa errada não com o filho, mas com ele mesmo.

A criança dorme, a mão agora também dorme, e ele acende outro cigarro, no escuro. A mulher tem razão: ela acabou com a vida dele, ele suspira, concordando, e sente-se misteriosamente mais tranquilo.

O filho eterno - Cristovão Tezza (p.44-5)

domingo, 12 de maio de 2013

Na semana passada recebi no facebook o convite pro 1º Veganique de Toledo, que aconteceria no sábado, dia 11. O evento foi criado com o objetivo de reunir veganos, vegetarianos, ativistas do direito animal e causas ambientais... enfim, visava promover a discussão do amor e da vida, e claro, um saboroso picnic a beira lago. Assim o fez.


Passei a semana pensado e matutando com a minha mãe o que poderíamos cozinhar para eu poder levar. Depois de muito pesquisar, escolhido o prato, fui sozinho para a cozinha no sábado cedo para preparar deliciosos harburgueres veganos. Meus amigos sabem, minha experiência na cozinha não é nada vasta e complexa, faço o necessário e, vezenquando, alguns experimentos por vezes bem sucedidos; mas é óbvio, cozinhar para outras pessoas é OUTRA coisa.

Selecionei os ingredientes de acordo com o que minha mãe tinha em casa, não comprei absolutamente nada - isso comprova o praticidade da receita. É claro que as primeiras tentativas deram errado, encontrar a consistência exata da massa para os hamburgueres não desmancharem na fritadeira foi um problema, afinal, o prato é vegano, então, nada de leite e ovo. Chega e lero-lero, aqui vai a receita (adaptada do blog O fantástico mundo de Jess):

Ingredientes:

¹Proteína de soja texturizada;
1/2 cenoura ralada;

1 cebola ralada;
3 dentes de alho picados;
Cheiro verde e cebolinha à gosto;
Tempero a gosto (usei sazon);
Farinha de trigo suficiente para dar liga a massa.

¹Não coloquei a quantidade da proteína porque não sei quanto usei, mas acredito que foi meio pacote, ou não.


Modo de preparo
O primeiro passo é hidratar a proteína de soja, para isso, adicione água a proteína de modo a deixá-la toda molhada; leve-a ao microondas por 2 minutos, após isso, deixe a proteína de molho por volta de 15 minutos. Rale e pique todos os ingredientes. Utilize uma vasilha grande para misturar os ingredientes e a proteína hidratada; salgue à gosto. Crescente a farinha de trigo de modo que a massa fique bem consistente e não se desmanche na panela (ou seja, MUITA farinha), mas cuidado para não exagerar, farinha em excesso deixa a massa dura.
Para terminar, molde os harburgueres com as mãos e frite (com óleo ou azeite, como preferir - eu fiz com óleo).

Posso dizer que sofri, mas os hamburgueres ficaram deliciosos! Estou louco pra fazer de novo e experimentar outros temperos e ingredientes!

Levei pro Veganique e olha, o pote voltou vazio, acredito que seja um bom sinal. Participar do encontro foi uma experiência incrível; conhecer diversos veganos e vegetarianos de diferentes lugares do oeste a fim de trocar informações e conhecimentos acerca da cozinha vegana e de todas as questões que envolvem esse modo de vida foi engrandecedor. Tão engrandecedor e desafiador que resolvi me aventurar na cozinha hoje mais uma vez, agora, resolvi fazer um Bolo de Laranja vegano. Peguei a receita no encontro, ontem, lá vai:

Ingredientes:
3 xícaras de farinha de trigo;
1 e 1/2 de açúcar;
2 xícaras de suco de laranja natural (usei oito laranjas grandes);
1 colher de sopa de fermento (pó royal);
1/2 xícara de óleo.

Modo de preparo:
Misture bem a farinha e o açúcar; adicione os ingrediente líquidos e bata manualmente. Depois de estar bem misturado, adicione o fermento e bata por mais cinco minutos. Pré-aqueça o forno e asse em fogo médio até ficar moreninho (não controlei o tempo, pra saber que se estava bom, fiz o teste da mãe: furei com um palito, quando saiu limpo, tirei do forno).



Só posso dizer que enquanto escrevo esse post, estou degustando do bolo (que, tenho que dizer, ficou delicioso) e de um chá de camomila. Pra terminar: minha mãe acha que estou tentando roubar o lugar dela na cozinha, coitada, ficou chatiada, hahaha.

- Enquanto escrevia esse texto, comia o bolo e tomava meu chá, ainda escutava o EP dos curitibanos da Simonami. Baixe e EP e pague com apenas um post no facebook ou twitter. Clique aqui para fazer o  download, vale a pena.


domingo, 28 de abril de 2013

O samba-enredo da semana

Criei o blog com a expectativa de publicar sempre, sem longos intervalos de tempo, mas como podem ver, isso não aconteceu. Procrastinei (lembram?) a escrita de vários textos e ideias já "prontos" na minha cabeça. O problema: falta de tempo! Não vou ficar aqui reclamando do quão difícil está o terceiro ano do curso, somado com os trabalho de fim do projeto de pesquisa e outros projetos e planos que acontecem paralelamente, mas que não está fácil é fato.

Provas, resumos, preparações de seminários, reuniões, revisão de textos trouxeram consigo a necessidade de acordar cedo todos os dias. Tenho uma relação de amor e ódio com o ato de acordar cedo. Por um lado, amo o frescor da manhã, o cheiro de café logo cedo, aquele sol que não queima, um bom dia sorridente; por outro, meu apego às madrugadas me faz ter uma dificuldade absurda em acordar e outra em me manter acordado. Só preciso me educar e disciplinar pra aprender a aproveitar melhor meus dias.

Entre meio toda essa loucura acadêmica, várias coisas lindas aconteceram: a Aline e eu recebemos a carta de aceite do nosso trabalho pra o EREL, que acontece no Rio de Janeiro, na virada de maio pra junho; uma alegria imensa e uma baita sensação de alívio tomaram conta de mim; agora só precisamos preparar nossa apresentação e traçar nosso itinerário de viagem, que, claro, já está quase pronto na minha cabeça!

Outro grande presente foi o lançamento online do primeiro CD da curitibana Ana Larousse, o Tudo começou aqui. O disco foi financiado coletivamente através do Catarse, no ano passado, e agora, tanto tempo depois, chegou a nossos ouvidos e invadiu nossas casas. Um misto de orgulho e alegria contaminam a minha'lma quando leio meu nome entre os tantos colaboradores do projeto; agora só resta esperar o CD físico chegar e o Leo Fressato concluir a produção de seu disco pra alegria ficar completa.

Além disso tudo, a Amanda fez o layout do blog! Falei pra ela ficar a vontade e criar algo que achasse a minha cara: em alguns minutos o apartamento 05 ganhou cara nova. Ficou mais claro, ganhou uns filtros dos sonhos e mudou a fonte. Lindo, né? Além disso, outra linda novidade. Ela descobriu o sexo do bebê e ele já ganhou até nome: é um menininho e se chama Autran 

Para terminar a semana, vim pra Palotina ontem, trabalhei até as três da manhã - pasmem! - e tive um domingo tradicional: almoço em família. Pra ficar melhor, a fofurice invadiu a cidade e fiz um book - risos - dos meus cachorros. Deixo aqui todo o amor do mundo:


 

Para semana que vem prevejo mais trabalhos, reuniões, provas e vida. Que ela venha com toda a paz que cabe nessa música da Marisa:


Vai sem direção / Vai ser livre / A tristeza não / Não resiste

Solte os seus cabelos ao vento / Não olhe pra trás
Ouça o barulhinho que o tempo / No seu peito faz
Faça sua dor dançar / Atenção para escutar
Esse movimento que traz paz / Cada folha que cair, Cada nuvem que passar
Ouve a terra respirar / Pelas portas e janelas das casas
Atenção para escutar / O que você quer saber de verdade

quarta-feira, 17 de abril de 2013

36 semanas

- oi leo, tô grávida!

De repente (já faz um tempo), no meio de uma carona até a biblioteca, minha melhor amiga joga essa notícia no seu colo, sem abraços. Eu, meio anestesiado com a notícia, desconfio, lembrando que ela já havia brincado algumas vezes com supostas gravidezes. Mesmo assim já quero saber o sexo, ir pra loja de roupas e brinquedos infantis mais próxima, confeccionar brinquedos, comprar livros, aprender a costurar pra fazer roupinhas. Ela, também anestesiada, só quer a confirmação da ultrassom, para daí sim poder sorrir aliviada, mas também se preocupar, traçar os novos planos.

Não é fácil engravidar no meio da graduação (e isso piora quando se é bolsista), justo no ano do primeiro estágio; os planos começam a fugir do nosso controle e suas prioridades acabam se transformando e ganhando um nome e um rosto.

Falo assim porque às vezes parece que engravidei com ela. Brinco que talvez seja uma gravidez psicológica, só pra poder acompanhá-la e, por vezes, ganhar os mimos e chamegos que por direito grávidas merecem. Só isso. Dispenso dores, enjoos e exaustivos exames e chutes.

Nunca tinha acompanhado uma gravidez tão de perto, então tudo acaba sendo novidade. Pra ela, que já é mãe de segunda viagem, não.

A espera pela descoberta do sexo, essa eterna angústia, tem sido uma das piores partes - pelo menos pra mim - principalmente quando você convive com uma grávida já de seis meses, que não sabe o sexo do bebê e tem que responder a mesma pergunta o dia todo, exaustivamente: é menino ou menina?

A parte boa é que enquanto ela não descobre o sexo, vamos criando, inventando e nomeando a criança das mais diferentes e bizarras formas. Mas eu ainda insisto que, caso seja menina, ela deve se chamar Dulce Maria. Não é uma graça?

Falando dessa espera de descobrir o sexo do bebê, descobri há algum tempo que meus pais optaram por só saberem o sexo do meu irmão e meu depois que a gente nascesse. Segundo minha mãe, pra ela só importava que fossemos saudáveis (ou seja, gordos e corados), não importando nosso sexo. Me derreti de amores; é tão lindo saber que pra seus pais pouco importa o que você é, desde que você seja feliz e saudável (assim espero).

Mas voltando pra gravidez da Amanda, falta pouco para descobrirmos o sexo, como também falta pouco (só mais doze semanas - é isso, Amanda?) pro bebê nascer. Daí sim rotina nova, choro, fraldas, mamadeiras, chocalhos, mordedores, canções de ninar e bajulação transbordarão pela cidade toda, merecidamente.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Agora eu tenho um blog (ou a arte de procrastinar)

Procrastinei - olha, a palavra do dia coube aqui! - a criação de um blog pessoal por muito, mas muito tempo. Primeiro, por preguiça; depois que a preguiça passou, ou só deu um tempo mesmo, foi a falta de criatividade para batizá-lo. Toda e qualquer ideia trivial ou poética (risos) que eu tinha para nomeá-lo já havia sido usada (até a primeira parte do título bobo deste post já é nome de um blog). Por último, sempre adiava a ideia porque não queria criar um blog e usar um design comum, do google. Como podem ver, desisti desta ideia; ou pelo menos a procrastinei.




O apartamento 05 (gravado em mármore) é meu lar há alguns meses. Numa rua com nome de estado nordestino, numa das cidades mais alemães do Brasil, num prédio com nome de santo de novela, ele se encontra. Sua cor, o azul, que, segundo alguns, representa tranquilidade, destoa da rotina de seus moradores, total e absolutamente universitários, assim como eu. Curso o terceiro ano de Letras Português/Espanhol, na UNIOESTE.

Tentei ao máximo fugir dessas postagens de boas-vindas e apresentação no blog (e talvez esse tenha sido outro dos motivos da procrastinação), mas aqui cheguei e não vejo outra forma de iniciar. Já tenho idade suficiente pra ser preso, mas pouca idade pra casar; sou vegetariano, pinto mandalas, faço tie dye, calço quarenta e quatro, gosto de literatura brasileira e macarrão. Adoro MPB, mas não resisto a um tecnobrega. Tenho milhões de planos, mas amanhã penso neles.

Poderia falar mais, mas deixo isso pra outra hora...

Já sabem onde eu moro, é só chegar com a cerveja, que tem lugar na casa e no coração (que pieguice), e bem-vindos ao apartamento 05!